Já era a metade final do jogo. Ouvi um silêncio que jamais ouvira num estádio de futebol. O único barulho vinha de um trompete da Guarda, pois só ele ainda ousava desafiar o quieto atordoamento colorado. O que me pareceu naquele momento é que o trompete tocava o Toque do Silêncio. Estávamos num enterro e onze mortos corriam à nossa frente. Pode-se dizer: era um silêncio sepulcral.
Cerca de 6 mil colorados foram ao Beira-rio. É um número pequeno, mas é quase a capacidade total do estádio atualmente. Ver o Gigante pela metade, com frestas em suas paredes, já poderia ser dor suficiente para os torcedores. Não, ainda havia mais. Atônitos, tínhamos de aguentar a tragicômica cena de profissionais muitíssimo bem remunerados arrastando-se desinteressados pelo campo.
Houve sim, algumas manifestações da torcida. Logo após o primeiro gol da Portuguesa, pela única vez durante o jogo, o estádio todo cantou. Não foi em apoio, pois já estamos cansados de apoiar quem não se interessa. Foi protesto. “Ô, seja mais guerreiro, isso é Inter, não é Grêmio”, cantamos enquanto a Portuguesa trocava passes e o time colorado assistia. Fomos ignorados.
Queríamos falar mais, é verdade, mas não nos permitiram. Um torcedor tentou estender uma faixa contra o presidente Giovanni Luigi, exigindo a contratação de Dunga como novo técnico. Foi impedido. Um segurança do clube calou forçosamente um torcedor. Era ordem da direção, disseram. É tão melancólico este ano que, no dito Clube do Povo, o presidente é escolhido por 166 pessoas e proíbe que os outros milhares manifestem sua contrariedade. Faria bem que Luigi se limitasse a administrar rodoviárias.
Uma última vez, quebrou-se o silêncio. Terminou o jogo e a esperada debandada imediata não aconteceu. A maioria dos colorados permaneceu um pouco mais nas arquibancadas, como se não achasse possível que realmente o final fosse aquele. E nós cantamos, mais uma vez, clamando por mais dedicação dos jogadores. Infelizmente, nossos atletas foram tão rápido para os vestiários que duvido que tenham ouvido algo.
Acabamos o ano numa triste semelhança com 2002. Nossa maior vitória foi ver um antigo ídolo vencer o Grêmio. Os contextos são tão diferentes, o Inter é tão diferente. Mas Rentería eliminar os tricolores da Sulamericana teve um gosto parecido com Enciso e seu Olimpia na Libertadores 2002. Naquele ano, o Inter quase foi rebaixado. Neste, apresentou um futebol merecedor de passar pela mesma situação.
Irrita mais ainda a torcida a indefinição do novo técnico. Indefinição essa que deve terminar esta semana. Se é Dunga que muitos pedem, é provável que não venha – dado o gosto desta direção em fazer aquilo que a torcida não quer. Eu, na verdade, apostaria em outro nome: Fabiano Cachaça. Se Luigi quer queimar outro ídolo, prefiro o Cachaça: ao menos será divertido.